Nashville
Sério? Ela estava falando sério? A porcaria da diretora tava falando sério?
Não, porque tipo, eu já sou totalmente ocupada com o negócio de tentar achar uma “cura” para o aquecimento global, já que mais ninguém liga pra isso. Também tem o fato de nenhuma gravadora aceitar minhas músicas, e ainda por cima, eu estou levando bomba em matemática, total. E ela ainda acha que eu tenho tempo pra ser babá de um atorzinho que não tem mais o que fazer e resolveu vir investigar como é a vida aqui em Nashville.
Bom, é o seguinte: meu nome é Fernanda, tenho 14 anos, sou aspirante a cantora, ótima em Literatura e péssima com números.
Estava eu, em mais uma aula tediosa de matemática, quando fui chamada à sala da diretora. Pensei: ótimo! Que foi que eu fiz agora? Mas quando descobri o que era, eu realmente preferia ter feito algo errado.
- Fernanda, querida, você sabe que é uma ótima aluna, educada e que eu realmente confio em você – disse a diretora.
- Certo, e... – falei.
- É o seguinte, amanhã chega um novo aluno no colégio. Na verdade, ele não é aluno, é um ator que vem ficar uns tempos, pois tem de representar um jovem de Nashville em seu próximo papel. Ele ficará disfarçado de Justin Speelers. Mas na verdade ele se chama Joseph Jonas, conhece? – ela perguntou.
- É, acho que sim. – ele não é daquela banda Jonas Brothers? É ator também? A Disney só contrata multifuncionais* mesmo.
- Pois é, e como sei que você não liga muito pra atores e tudo mais, queria saber se você poderia acompanhá-lo nessas próximas duas semanas.
- Tá, é, tudo bem. – O que eu ia fazer? Falar não? Quer dizer, eu não queria, mas ela pediu e tudo mais, não tinha como recusar.
- Certo, obrigada. Trate-o bem, ajude-o com o eu for preciso, porque é uma honra tê-lo aqui.
- Ok, farei o possível. – dei um sorrisinho falso e fui saindo mas ela chamou meu nome e falou:
- Só um detalhe: ninguém pode descobrir quem ele é de verdade.
- O que? Mas vai ser meio impossível, porque...
- E você não pode contar a ninguém também porque tem de ser uma experiência real e, se descobrissem, atrairia muitos paparazzi com certeza. Combinado? – ela me interrompeu.
- Combinado. – respondi com cara de derrotada e saí.
Bom, foi isso que aconteceu. Agora estou completamente perdida porque aquele papo com a minha melhor amiga, a Renata, de contar tudo uma pra outra, já era!
Eu odeio mentir pra ela - bom, nesse caso, omitir. Mas mesmo assim. “Você não pode contar a ninguém porque tem de parecer real”. Grande bosta! Onde eu estava com a cabeça quando aceitei isso?
No dia seguinte
Certo, cheguei na escola e encontrei a Renata no corredor.
- Fer! Oi! Escuta, quer ir pra casa hoje a tarde? - perguntou ela.
- Claro Nata, claro. – respondi.
- Certo. Então a gente se fala depois que estou atrasada para a aula de Educação Física. – disse ela e saiu correndo.
Conheço a Nata já faz uns três anos e somos BFFs desde então. Esse ano, caímos em sala separada, o que é MUITO chato, mas acho que vai ser mais fácil de esconder dela que vou conhecer o tal famoso. Uhh! Que emoção!
Continuei meu caminho para a aula de Química. Estava eu, tentando entender mais uma vez a Tabela Periódica, quando a diretora bateu na porta e apresentou o novo aluno: Justin Speelers.
Demorou um pouco pra cair a ficha de que ele era o tal astro disfarçado, porque ele tava bem diferente do que eu me lembrava do tal Joe. Sério, estava de óculos, boné e tudo mais.
A diretora indicou a cadeira vaga na minha frente para ele se sentar e foi embora, dando uma piscadinha para mim. Ótimo mesmo, íntima da diretora. Maravilhoso pra minha reputação! Na verdade, nem tenho reputação, mas que seja.
- Oi, você é a Fernanda certo? – ele interrompeu total meus pensamentos.
- Certo.
- Espero que tudo bem pra você me ajudar com esse lance do disfarce. – ele disse.
- Tudo bem, sim. Ótimo. Maravilhoso. Na verdade, eu nem tenho mais nada pra fazer mesmo (ironia total, mas parece que o burro não entendeu).
- Então tá. – disse ele com um sorriso e virou pra frente.
Um sorriso lindo, tenho que admitir. Na verdade, não SÓ o sorriso. Ok, certo, pára Fernanda! Controle-se. Não foi a toa que na hora do almoço [n/a: lá as aulas são das 08:00 as 15:00, geralmente] todas as garotas da escola já estavam apaixonadas por ele.
- Espero que goste de hambúrguer, porque é o cardápio de hoje. – falei quando chegamos à cantina.
Sim, ele estava realmente me seguindo pra tudo quanto é lado. Até no bebedouro.
- Ah, gosto sim – disse ele, colocando o hambúrguer no prato.
Fui direto pra mesa onde Renata e Demi, outra amiga, estavam sentadas. E adivinha quem veio atrás. Quem, quem, quem? Acertou se a resposta foi Joe! Ou Justin, whatever.
- Quem é você? – Demi perguntou.
- Justin. Justin Speelers. – ele respondeu.
- Ele é aluno novo. Está na minha sala e eu estou ajudando ele. – falei antes de elas começarem a enchê-lo de perguntas. Apesar de que eu não ligaria se ele sofresse um pouco. Porque sério, quando essas duas começam a falar, é difícil parar (rimou, hehe).
- Ah, tá. Bom, bem-vindo. – Renata disse e olhou pra mim com aquela cara dela de “que pedaço de mau caminho!”.
O que mais me espantou foi o fato da Demi não ter descoberto quem ele era. Pelo menos não ainda. Porque ela é ligada nessas coisas de celebridades e tudo mais.
O almoço acabou e fomos pra classe. Quando estava chegando o fim da aula, Joe virou pra trás e perguntou:
- E aí, onde vamos quando a aula acabar?
- Como assim? Eu vou pra casa da minha amiga e você, sei lá, pro hotel em que está hospedado ou pra algum outro lugar. – respondi.
- Achei que você tinha que me ajudar com a pesquisa pro personagem.
- Tenho, mas só na escola.
- Ninguém me disse que era só na escola.
Esse garoto estava começando a me irritar profundamente.
- E ninguém me disse que também era fora dela!
PRRRIII! (sinal da escola)
- Diretora, a senhora não disse que era pra eu ajudar ele fora da escola também! – assim que acabou a aula fomos resolver isso com a diretora, já que não chegamos a um acordo.
- Fernanda, eu esperava que você fosse fazer isso por conta própria, já que ele precisa da sua ajuda. Mas ninguém está te obrigando a nada. – ela disse fazendo uma SUPER chantagem emocional. E lá vou eu dizer que sim, eu aceito, de novo. Acho que preciso diminuir minha dó com as pessoas. A vantagem é que vou pro céu.
- Certo, eu fico com ele a tarde. – falei e sai. Ele me seguiu de novo – Vou só inventar uma desculpa pra Renata – falei para ele.
Logo que avisei a Renata, liguei pra minha mãe e disse que ia chegar mais tarde em casa. Saímos da escola e ele ficou olhando pra minha cara, e disse:
- E ai, aonde a gente vai?
- Sei lá! Vamos andar só, ai você aproveita e conhece a cidade. – eu disse com má-vontade.
- Tá.
Andamos um bom caminho em silêncio. Afinal, por mim eu nem estaria ali, então não seria eu a primeira a falar. Foi quando ele resolveu dizer:
- E aí, o que costumam fazer por aqui?
- Ah, geralmente a gente fica andando aqui, ou a gente se reúne lá nas escadas do colégio e passa horas conversando. Sabe como é, não conseguimos nos desligar nem um pouco da escola.
- Sei. – ele riu, lindo.
Qual é? Dá um desconto. Eu sei que estou aqui meio forçada, mas isso não muda o fato de o sorriso dele ser lindo.
- Hehe. É, ás vezes vamos no minúsculo shopping que tem, e é isso. – falei – E vocês, garotos da cidade grande, o que costumam fazer na tão famosa LA? – perguntei. E sim, eu estava puxando papo. Não sou de ferro, né?
- Ah, acho que eu não sou a melhor pessoa pra te responder isso, porque eu não levo uma vida muito normal, sabe? Apesar de eu tentar isso ao máximo. Estou até estranhando estar aqui sem nenhuma atenção, fãs, paparazzi.
Que fofinho! Não, não estou gostando dele, só estou sendo gentil, certo?
- Então me conta sobre sua vida não-normal. – pedi.
- Bom, eu tenho mais três irmãos, eu e mais dois temos uma banda, Jonas Brothers. Já ouviu?
- Já sim.
- Então, às vezes temos que viajar para fazer shows. Temos uma série agora, JONAS, o que é bem legal e... Ah, umas fãs meio histéricas. – ele disse.
- É, isso imaginei que tivesse mesmo. Afinal, vocês não são tão feios. – eu disse.
- Está falando que me acha bonito? – ele perguntou, galante.
- Não, não é isso. É, ah... Esquece. – falei, totalmente sem-graça.
Para a minha sorte, paramos em uma cafeteria e sentamos em uma mesa isolada pra tomar café (lógico).
- Mas e aí, sobre o que é o filme que você vai ter que fazer? – perguntei.
- Vou ser um garoto que mora em Nashville com o pai, engravido minha namorada e temos que esconder de todo mundo. È uma comédia. Sabe, típica historia adolescente. – ele respondeu.
- Ah, legal.
De repente meu celular tocou. Atendi:
- Alô! Oi! O senhor é da gravadora SPR, certo? Isso. É, fui sim. Ah, não estão interessados. Certo então, obrigada mesmo assim.
Desliguei. Como se não pudesse piorar. Mais uma gravadora me recusou. Vou desistir desse negócio de cantar.
- É. Desculpa, mas... Você canta? – ele perguntou.
- Tento.
- Canta para eu ouvir. Quem sabe te ajudo com a gravadora?
- Er, não. Vou tentar isso sozinha. Olha, preciso voltar para casa. - fui me levantando.
- Eu te acompanho, depois vou para o hotel.
- Tá.
Chegamos à frente da minha casa e eu me despedi dele. Estava entrando quando ele disse:
- Olha, desculpa por ter forçado você a ir hoje. É que você parecia bem legal e eu queria ter conhecer melhor. Não precisa mais fazer isso.
- Ah, tudo bem. Na verdade, foi legal. Acho que agüento por mais duas semanas. – dei um sorriso e entrei.
Passaram-se mais três dias e nós estávamos ficando realmente próximos. Ele era super legal comigo, mas ainda era difícil esconder a verdadeira identidade dele. Teve até um dia que uma menina veio perguntar se eu não achava ele super parecido com o Joe Jonas. E eu: “Não, acho que não. Lembra vagamente.” E saí. Também era complicado ter que falar Justin ao invés de Joe.
Na sexta-feira, eu tive que ficar no período da tarde na escola para ensaiar a música que eu iria cantar no show de talentos da escola, que seria na terça-feira. Joe ficou para me fazer companhia.
- Parece que finalmente vou ouvir você cantar. – ele disse enquanto eu afinava o violão.
- É, acho que sim. – falei e dei um sorriso envergonhado.
Tenho que confessar que esse menino realmente mexeu comigo. Ele era totalmente normal! Talvez até melhor. Não era metido, era super engraçado e, bem, lindo. Sim, eu meio que estou gostando dele. Mas é viagem total porque, fala sério, olha só pra ele.
Peguei o violão e comecei a cantar Crazier, da Taylor Swift. Quando acabei, ele estava de pé aplaudindo.
- Você é fantástica!
- Bom, parece que nenhuma gravadora concorda com você. Vem, vamos passear no shopping. Chega por hoje. – puxei-o pela mão e saímos.
No fim de semana ele foi até minha casa. Conheceu meus pais (que ficaram apaixonados por ele, mais dois na lista. Quem não ficaria?), tipo “apresentando o namorado”, ok Fernanda, volta! E nadamos muito. Não preciso nem dizer que ele fica maravilhoso sem camisa, né? Nos divertimos demais.
Segunda-feira, fomos novamente para a aula e fizemos a maldita prova de matemática. Inclusive ele.
Na terça-feira, todos estavam animados e nervosos (apenas os que se apresentariam), para o Show de Talentos, que aconteceria a noite. Depois da aula, Joe pediu para eu ir com ele até o hotel em que ele estava hospedado pra eu ajudar com as falas do filme.
O filme parecia ser ótimo. Começamos a ensaiar, então. Fiz aulas de teatro na escola quando criança, mas não era assim tão boa. Até que chegamos e umas falas mais, sabe, românticas:
- Max, você sabe que ficar com esse bebê atrapalhará muito a nossa vida.
- Não. O que eu sei, Ashley, é que a gente se ama, se apóia e vamos estar sempre juntos. – Bom, agora vem o beijo dos personagens, não precisa se não quiser. – ele disse.
Olhei para ele e no segundo seguinte, estávamos nos beijando. Um beijo muito apressado, mas também romântico. Cheguei a pensar que ele não estava mais atuando, assim como eu. Quando, tristemente tenho que dizer, nos separamos, ele disse, meio sem fôlego:
- Uau, você é ótima atriz. E, sabe, eles ainda não escolheram uma atriz para esse papel. Você poderia tentar. E... Bom, não me importaria de te beijar de novo.
- Não foi difícil, porque eu meio que não estava mais atuando. Quer dizer, menos a parte de estar grávida, claro. – eu disse, provocando.
- Certo. – ele disse e me beijou novamente. Parei o beijo.
- Joe! São 18 horas, temos de ir para o Show de Talentos!
- Certo, vamos! – ele chamou seu motorista e fomos.
Quando chegamos lá, Joe encontrou com um “amigo”, um homem meio velho. Não entendi muito bem porque, afinal, ele está aqui disfarçado e o cara o chamou pelo nome certo, e não Justin, mas não me importei e fui me arrumar.
Quando finalmente chegou minha hora de cantar, Joe veio até mim e me deu um beijo de boa sorte. Eu cantei, tenho que admitir, muito bem. Todos aplaudiram de pé. Quando desci do palco, Joe e o tal amigo vieram até mim.
- Fer, você foi ótima! – Joe disse enquanto me abraçava.
- Obrigada!
- Foi mesmo, você tem uma voz linda e é afinada também. – o tal amigo disse.
- E ela também atua! – Joe falou, todo animado.
- Não, não atuo. Eu só estava te ajudando. – eu disse.
- Ah, atua sim. – Joe repetiu – Bom, é o seguinte Fer, esse é o Steve, produtor da Disney e do meu novo filme. Ele veio até aqui te ver cantar.
- O que? Me ver cantar? Mas... Mas...
- E tenho que dizer que adorei o que ouvi! Gostaria muito de fechar um contrato, se você aceitasse. – Steve disse.
- Um contrato? – perguntei, perplexa. Não. Acredito. Nisso.
- É, fofa! – Joe disse.
- Claro! Claro que sim! Ah, Joe! – Abracei-o. O Joe, não o Steve.
- Que ótimo! Fico feliz em ouvir isso. Então, pegue meu cartão e eu espero sua ligação (rimou de novo, hehe) – Steve falou, me entregando o cartão.
- Certo, obrigada! – gritei enquanto ele ia embora e me virei para Joe. – Joe, não acredito que você fez isso! – o abracei.
- Tudo por você, Fer! Afinal, você me ajudou com tudo por aqui. – ele retribuiu o abraço.
Contei aos meus pais e eles ficaram super empolgados. Eles mesmo ligaram para Steve para saberem se era verdade.
Depois contei tudo para a Nata, e olha que ela nem ficou brava! Logo, a escola toda também ficou sabendo - as meninas, principalmente, ficaram loucas por não terem pedido autógrafos. Mas já estava no dia de irmos embora.
No domingo, nos mudamos para Los Angeles, voltamos junto com o Joseph e o segurança/motorista dele.
Eu acabei me saindo melhor do que esperava. Fechei o contrato com a Disney, meu namoro com Joe ficou sério. Estávamos apaixonados.
E, adivinha, virei o par romântico de Joe no filme! Isso mesmo! Eu seria a namorada grávida!
Ah, acabei conhecendo também os irmãos dele. Eles são realmente uns amores. Os pais de Joe também são ótimos!
E pensar que tudo começou com um simples pedido da diretora.
E agora, bom, agora eu também sou uma multifuncional da Disney. E, quer saber? Estou mais do que feliz com isso.
*-*Fim*-*