Os anos de convivência não foram suficientes para fazer Joe perceber o quanto Demi o amava. Ele via nela apenas a melhor amiga que já havia tido em toda a vida. Erro seu. Agora, era tarde demais para fazê-la voltar e dizer o quão tolo havia sido por todos esses anos, fazendo-a sofrer, quando ele sentia o mesmo por ela. O quão cego havia sido não escutando seus conselhos. Mas, agora, ele só tinha como companheira a carta deixada por ela em cima do criado mudo e lembranças daquela única noite em que ele se sentiu verdadeiramente completo.
Duas semanas atrás:
Joe havia acabado de sair do trabalho. Tinha saído mais cedo para fazer uma surpresa para Ashley. Assim que passou pela portaria do prédio da namorada, ele cumprimentou o porteiro, como de costume, e se dirigiu ao elevador. Aquela seria uma noite especial, ele havia dispensado ir à festa da empresa por conta da surpresa. Mas não via motivos para arrependimentos, era o aniversário de um ano de namoro deles, era uma data especial e devia ser comemorada a dois. O rapaz abriu um sorriso ao imaginar a expressão da namorada quando o visse ali. Ela não o estava esperando, já que ele dissera que estaria na festa da empresa e só chegaria por volta das onze. A garota havia recusado o convite de ir à festa, disse que estaria o esperando no apartamento. Assim que o elevador se abriu no quarto andar, Joe pegou as chaves no bolso e se dirigiu a porta do apartamento. Tomando cuidado para não fazer barulho, ele girou a maçaneta e entrou. Ashley não estava na cozinha, provavelmente estava no quarto se arrumando. Então, ele seguiu em direção ao quarto. A porta estava entreaberta, ele a empurrou. Antes não o tivesse feito. Ashley estava seminua, aos beijos com outro cara. As chaves escorregaram de suas mãos, produzindo um barulho estridente ao tocarem o chão, fazendo com que o casal parasse de se beijar para descobrir de onde havia vindo tal barulho. Ashley mostrava uma expressão apavorada, de quem fez algo errado e não tem como esconder, mas, mesmo assim, tenta justificar.
- Joe, eu... Posso explicar. - Ashley falou, saindo de perto do rapaz com quem estava aos beijos há segundos, e indo em direção a Joe, que apenas levantou as mãos como sinal para que ela ficasse onde estava.
- Não. Você não precisa me explicar nada. - O rapaz havia fechado os olhos, enquanto falava. - Apenas aproveite o seu momento. Aliás. Feliz aniversário de um ano de namoro. Espero que você seja feliz com o garanhão ali. - A garota havia ficado sem palavras; Joe apenas virou as costas e saiu batendo a porta atrás de si. Só havia um lugar no mundo onde ele se sentiria bem agora, e ele iria para lá.
- Nick, eu acho que vou pra casa. - Demi falou para o amigo, que estava sentado ao seu lado.
- Demi, a festa mal começou. E, além do mais, você está linda, por que quer ir tão cedo? - Perguntou o amigo, fazendo a garota corar.
- É Demi. Você está ARRASANDO com esse vestido. Você está estonteante. - Disse Selena, sua amiga que estava sentada ao lado de Nick.
- Eu não estou me sentindo bem. Tô com um pressentimento ruim. - Demi era uma garota muito sensível. Não seria a primeira vez que ela previa que algo ruim ia acontecer.
- Quer que eu te leve em casa? - Ofereceu o amigo.
- Não, obrigada. Eu pego um táxi.
- Tem certeza de que você está bem? - Nick sempre foi muito protetor com relação à Demi. Ele fazia o papel de irmão mais velho, sempre gentil e preocupado com o bem-estar da garota.
- Tenho. Eu só preciso dormir. Passei as últimas três noites em claro.
- Tudo bem. Mas nos ligue amanhã, está bem? - Pediu Selena.
- Ok. Eu ligo. Aproveitem por mim. - Disse a garota, se despedindo dos amigos e indo em direção a porta. Pegou um táxi e se dirigiu ao seu apartamento.
Assim que chegou em casa, Demi trancou a porta e largou as chaves em cima da mesinha do corredor. Retirou as sandálias de salto a caminho de seu quarto, o único do pequeno apartamento em que ela vivia, e colocou sua pequena bolsa de mão sobre a cama. A porta do banheiro estava entreaberta, a garota então observou seu reflexo no espalho do banheiro. Por quanto tempo mais ela enganaria a si mesma dizendo que estava tudo bem, quando o que ela queria realmente era sumir dali? Ir para qualquer lugar, bem longe de Joe. Toda aquela tortura que ela guardava para si mesma por ter de vê-los juntos todos os dias. Por quanto tempo mais ela suportaria calada? A garota caminhou até a pia do banheiro, retirou os brincos, deixando-os sobre o balcão e, delicadamente, desmanchou o penteado em seu cabelo, deixando seus longos cabelos negros e ondulados caírem por sobre seus ombros. Lavou o rosto e retirou a maquiagem, só então abriu com cuidado o zíper do vestido rosa claro que estava usando, e o deixou cair a seus pés. Demi rapidamente vestiu uma blusa branca de alças e uma blusa de mangas compridas por cima, seguida de uma calça antiga de moletom. Com os pés no chão, a garota seguiu pelo corredor em direção a cozinha, se deteve novamente em frente à mesinha do corredor, onde avistou uma foto antiga dela com Joe. Eles estavam abraçados e sorriam, como sempre. Um pequeno sorriso brotou em seus lábios. Seguiu para a cozinha e decidiu tomar uma caneca de café. Serviu-se de café e estava indo de volta ao quarto, quando sua campainha tocou. Ela não esperava ninguém. Resolveu ver quem era pelo olho mágico. Rapidamente a garota pousou a caneca de café sobre a mesinha e destrancou a porta, sendo surpreendida pelos braços fortes de Joe em sua cintura no segundo seguinte.
- Joe. O que você está fazendo aqui?! - Perguntou a garota, preocupada. Aquele deveria ser um dia especial para ele. O aniversário de um ano de namoro com Ashley. Ele até havia deixado de ir à festa por isso. Mas agora nada fazia sentido, pois o garoto estava ali em seu apartamento com os braços ao redor de sua cintura e uma cara nada alegre.
- Eu devia ter te escutado. Eu fui um tolo. - Demi não precisava de mais informações para saber que o garoto se culpava por algo. Só precisa saber o que era desta vez.
- Calma. Está tudo bem. Eu estou aqui. Pronto. - A garota colocou seus braços ao redor do pescoço do amigo, tentando, em vão, o acalmar. Delicadamente, a garota fechou a porta com os pés, e, com uma das mãos, voltou a trancar a porta. - Agora, vamos. Me conte o que aconteceu. - Demi desvencilhou-se do abraço e segurou o rosto de Joe com as mãos, olhando em seus olhos. Joe não precisava de mais nada. Sentia-se seguro com sua melhor amiga.
- Eu... A Ashley. - O garoto balbuciou depois de alguns segundos.
- Tudo bem, eu acho que você tem muita coisa pra me contar. Vá pro quarto, eu vou preparar um café, enquanto você esfria a cabeça para me contar essa história direito. - Joe apenas assentiu, seguindo para o quarto da amiga e sentando-se nos pés da cama. Não demorou muito tempo para Demi adentrar no local com uma caneca nas mãos. Ela parou em frente ao garoto e lhe estendeu a mesma.
- Obrigada. - Ele murmurou, apanhando a caneca.
- Não por isso. Agora, vamos lá. Me conte direito essa história. - Falou a garota, sentando-se ao lado do amigo. - Você não viria para cá hoje, logo hoje, sem um motivo muito forte. -Demi olhou de soslaio para o rapaz. Joe olhou para garota por um momento e voltou a fitar a caneca em suas mãos.
- Ela me traiu. - Murmurou ele, após algum tempo.
- Isso é um motivo forte. - Sussurrou a garota mais para si mesma do que para ele.
- Eu devia ter te escutado. Escutado o Nick. Vocês tentaram me alertar o tempo todo, e eu...
- Não. Você amava, ama ela. Você não nos escutaria. O amor faz isso com as pessoas. - Interrompeu a garota.
- Como você... Eu. Ah. - O garoto suspirou profundamente. - Eu não sei o que fazer. Eu quero sumir.
- Não. Você não vai dar esse gostinho àquela... - Demi levantou-se e começou a caminhar de um lado para o outro. Sua vontade era falar nada mais que a verdade. Vadia. Mas não era a hora apropriada para encher Ashley de desaforos. Haveria hora melhor do que aquela para fazer isso na cara da garota. Naquele momento, o importante era acalmar Joe, para que ele não cometesse nenhuma loucura. - ...Garota. Eu sei que não faço idéia do quanto você está sofrendo, mas... Seja forte. Você tem o Nick, e a Selena, e ... - A garota mordeu o lábio, pensativa, parando de andar por um momento.
- E o quê? - Instigou Joe, olhando apreensivo para a amiga, que caminhou até ele e se ajoelhou para ficarem da mesma altura. Demi pegou as mãos frias de Joe e olhou em seus olhos.
- E tem a mim. - Terminou ela. - Você sabe que pode contar comigo pra tudo. Não vale a pena você arruinar sua vida por ela. - A garota ainda o fitava, e Joe sentia como se não pudesse desviar os próprios olhos dos da amiga. Ele não podia negar que Demi havia crescido e se tornado uma bela mulher. Seus olhos extremamente azuis faziam qualquer um querer se perder neles, e eles formavam um contraste perfeitos com seus cabelos negros e ondulados que lhe caíam pelos ombros. Seu corpo havia mudado tanto quanto seu jeito de pensar e agir. Ela era praticamente uma escultura viva. Lentamente, a garota aproximou seu corpo do dele, fazendo com que seus rostos ficassem a milímetros de distância. Suas mãos delicadas percorreram todo o seu rosto, e Joe continuava atônito, sem conseguir resistir aos carinhos oferecidos pela amiga. Quase inconscientemente, Joe envolveu seus braços pela cintura da garota, fazendo com que Demi passasse suas pernas uma de cada lado da cintura do rapaz. O único som que podia ser ouvido era o de suas respirações, ofegantes. Demi ainda segurava o rosto de Joe entre suas mãos. Ela sabia o quão idiota estava sendo, mas não faria diferença. Não agora. Ainda olhando nos olhos do rapaz, a garota encostou sua testa na dele e roçou seus narizes, logo depois selou os lábios nos dele. O beijo era calmo e explorava o máximo possível um do outro. As mãos ágeis de Joe não tardaram a se infiltrar por sob ambas as blusas de Demi, fazendo com que a mesma se arrepiasse por inteiro. A reação da garota foi imitá-lo sem demora, passando de leve suas unhas pelo abdômen do rapaz. Rapidamente o garoto retirou a blusa de mangas compridas que Demi usava, o mesmo não tardou a acontecer com a camisa social que ele trajava. Lentamente, Joe fez com que Demi deitasse na cama, ficando entre as pernas da garota. Não havia mais medo, nem incerteza. Não havia nada para impedir o amor dos dois.
Os primeiros raios de sol surgiam no horizonte quando Demi despertou, enrolada aos lençóis e nos braços de Joe. Então, tudo havia acontecido, mesmo. Não havia sido imaginação sua ou sequer um sonho. Agora a sua única saída era o que a havia perturbado por meses. Fugir. Ela não ficaria mais naquela cidade. Em silêncio, a garota se levantou e recolheu suas roupas que estavam no chão. Foi até seu armário, pegou uma calça preta, uma blusa de mangas compridas qualquer e um casaco preto e botas. Vestiu-se o mais discreta e silenciosamente possível. Era dezembro e fazia muito frio. Sem demora, ela arrumou uma mala com suas roupas preferidas e objetos pessoais mais valiosos, tanto sentimentais quanto materiais. Pegou uma mochila e colocou mais alguns pertences dentro. Por fim, pegou uma bolsa antiga de tecido que Tina havia lhe dado, e colocou sua carteira, um casaco fino, seu celular, um livro e seu Ipod. Só então a garota parou para observar Joe. O garoto ainda dormia tranquilamente com um sorriso em seu rosto perfeito. Caminhou até ele devagar e acariciou seu rosto. Aquela era a última vez que ela o veria. Afastou-se dele e pegou um bloco de anotações que estava em cima da cômoda. Escreveu rapidamente, e, por fim, a garota retirou um dos colares que usava e deixou-o sobre o criado-mudo ao lado de Joe, junto com a carta que acabara de escrever. Enrolou um cachecol no pescoço, pegou suas malas e deu uma última olhada em Joe, logo em seguida se retirou do quarto. Ao passar pela mesinha do corredor, a garota observou a uma das fotos que estavam sobre ela. Em uma delas, estavam Selena, Nick, ela mesma eJoe, abraçados e rindo para a câmera. Ela apanhou o porta-retratos e o guardou na bolsa. Aquela seria uma boa lembrança do que ela havia vivido ali. Sem demorar-se mais um segundo dentro do apartamento, Demi destrancou a porta, deixando a chave novamente sobre a mesinha do corredor, e saiu sem fazer nenhum barulho.
Quando Joe acordou e encontrou a cama vazia, entrou em desespero. Não sabia o que fazer. Não demorou muito para encontrar a carta.
Quando chegar a ler esta carta, eu já estarei longe o suficiente para não me sentir culpada por tudo o que aconteceu. Venho escondendo meus verdadeiros sentimentos por anos e, sinceramente, estarei mentindo se disser que me arrependo de tudo o que aconteceu na noite passada. Espero que não sinta raiva de mim. Partiria meu coração saber que fiz você sofrer, mas eu não podia conviver com a idéia de vê-lo voltar correndo para os braços de outra. Eu sei que agi errado e não culpo ninguém por isso. Não se preocupe comigo. Eu ficarei bem. Antes de mais nada, quero que saiba que o amo com todas as fibras de meu corpo. Eu o amo mais até do que minha própria vida. E sinto não ter tido coragem de dizê-lo pessoalmente, mas não queria acabar com a amizade que mantínhamos. Diga ao Nick e a Selena que eu os amo de todo o meu coração e que desejo para eles tudo o que há de melhor. Eu sei que aqueles dois cabeças-duras se amam de verdade, e chego a ter uma pontinha de inveja deles. As chaves do apartamento estão em cima da mesinha do corredor. Eu peço que as entregue à Selena. Sei que ela estava procurando um lugar para se mudar e fará bom uso deste. Quanto a você, espero que seja feliz e que não se esqueça de mim. Não quero que guarde rancor, mas não posso mudar o que já foi feito. Espero que um dia me perdoe.
Demi
Sobre a carta, estava um dos colares que ele havia dado para ela. Uma corrente com um pingente em forma de coração, que se abria e revelava duas fotos. Uma dele, e uma dela. O garoto apertou o colar em suas mãos e uma lágrima teimosa escapou de seus olhos. Ele a havia perdido. Para sempre.
Por semanas a fio, ele, Nick e Selena, haviam-na procurado. Visitaram todos os lugares por onde ela podia ter passado, os amigos mais íntimos a quem ela podia ter pedido abrigo, e nada. Não havia mais onde procurar. Ela havia sido cuidadosa. Não queria ser achada.
Já fazia praticamente um mês desde que Demi havia fugido de Lawrence. Nesse meio tempo, ela havia arrumado um emprego de garçonete e se arranjado em um apartamento de dois quartos. Agora, ela não podia pensar só em si mesma. Ela tinha de pensar na criança que carregava no ventre. Fruto de uma noite de loucura. Mas a garota não se arrependia nem um pouco de tudo o que fez. Valeria à pena, e aquela criança seria muito bem-vinda. Mesmo ela tendo de criá-la sozinha. Aquela criança que iria nascer era seu pequeno milagre.
FIM
Meu Deus, não tenho palavras. Apenas, PERFEITO *-*. Ficou muito diwino e simplesmente AMEI *-*
ResponderExcluirParabéns :*
Beijos diwa ~